O
futebol é uma das mais belas criações humanas, capaz de unir povos e despertar
paixões, mas também de gerar conflitos. A interpretação individual de cada
torcedor muitas vezes ultrapassa os limites da razão, tornando o debate sobre o
esporte uma arena de opiniões divergentes. Embora seja considerado por muitos o
maior espetáculo da Terra, o futebol também é palco de desentendimentos e
atitudes desleais, onde jogadores ferem colegas de profissão sem remorso,
ignorando que poderiam estar no lugar daquele caído no gramado. Além disso, a
apatia de alguns protagonistas do jogo resulta em comemorações excessivas e
desnecessárias. Para que continue sendo um espetáculo grandioso, o futebol deve
preservar sua essência de arte e paixão, sem ser confundido com uma batalha
onde todos entram em campo como se estivessem armados para a guerra.
Houve
um tempo em que o futebol era movido pela imaginação dos torcedores que não
estavam nas arquibancadas. Para acompanhar os jogos, recorriam ao rádio, que,
por meio de narradores entusiasmados, transportava os ouvintes para dentro do
estádio. A narração era carregada de emoção, e muitas vezes, mesmo quando a
bola passava longe do gol, o locutor fazia parecer que ela havia raspado a
trave. Os torcedores, cativados pela intensidade da transmissão, confiavam
plenamente nas análises dos comentaristas. Hoje, no entanto, o futebol
transformou seus atletas em máquinas de correr e gerar lucro, deixando em
segundo plano o amor pelo clube. Como consequência, surgiu uma rivalidade
intensa que não apenas acirra os ânimos dos torcedores, mas também influencia a
postura de parte da imprensa esportiva.
A
televisão teve um papel fundamental nas mudanças do futebol. Embora tenha
aprimorado a experiência dos espectadores, também estabeleceu um modelo de
financiamento que favorece os clubes com maior número de torcedores,
marginalizando aqueles que nunca atingiram o topo do esporte. As transmissões
televisivas contam com equipes altamente qualificadas, que analisam cada
detalhe, simulam jogadas e posicionamentos por meio de programas de computador
e utilizam um vocabulário sofisticado para prender a atenção do público.
Curiosamente, muitos desses comentaristas jamais jogaram futebol ou
frequentaram uma escola esportiva, mas suas análises frequentemente superam as
de técnicos experientes, que já atuaram profissionalmente dentro das quatro
linhas.
Na
crônica Coices e relinchos triunfais, Nelson Rodrigues satiriza um
cronista que, ao visitar a Inglaterra, teria retornado ao Brasil
"disparando coices triunfantes em todas as direções". Essa crítica
permanece atual, pois, no cenário esportivo contemporâneo, muitos comentaristas
de futebol agem da mesma forma. Basta um diploma de jornalismo para que alguns
se sintam no direito de menosprezar seus espectadores, distanciando-se da
verdadeira essência do esporte e da sua função de informar e entreter.
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