O
desejo de muitas crianças contemporâneas é crescer e viver na cidade, onde têm
acesso a todas as comodidades para seu desenvolvimento. No entanto, muitos, ao
se tornarem adultos, acabam dependendo financeiramente dos pais, relutando em
ingressar no mercado de trabalho, tanto dentro quanto fora da cidade onde
residem. Isso os torna dependentes e os afasta da oportunidade de conhecer o
mundo real. Infelizmente, é uma realidade observável. Essa falta de
independência pode afetar suas habilidades de estímulo, raciocínio e visão de
mundo, resultando em uma vida permeada por ilusões.
Recentemente, meu sonho
se tornou realidade com a construção de uma nova residência no interior de
Coruripe, Alagoas, com três quartos, sala, cozinha e uma área para relaxar em
uma rede. Ao observar a vida das pessoas que moram ali, passei a enxergar a existência
de forma diferente. Surpreendentemente, são felizes com o simples. Não
necessitam de muito para sorrir, apenas do essencial para sobreviver. Uma mesa
farta com alimentos que saciem a fome é o suficiente. Um exemplo é um morador
de oitenta e quatro anos, que passa seus dias ativamente, cuidando de sua
plantação, de seus animais e apreciando a natureza ao seu redor, sem queixas.
Minha ambição me afastou
de minhas raízes por quase cinquenta anos, mas percebi a tempo que a qualidade
de vida não requer excessos. Ao me deitar em minha rede na nova residência, sou
inundado por lembranças de minha infância em um sítio no município de Piaçabuçu,
Alagoas. Foi lá que aprendi sobre as necessidades básicas e a dureza da vida.
Enquanto fecho os olhos,
ouço o vento balançando as palmeiras e as árvores, vejo a chuva escorrendo
pelos telhados, e recordo os dias de chuva abundante que sustentavam a terra.
Lembro-me de correr pelo terreiro da casa com meus irmãos, jogar bola na várzea
e ajudar meu avô na ordenha das vacas. Tudo isso fazia parte de minha rotina
simples, mas gratificante.
Recordo também meu avô,
um habilidoso vaqueiro que desempenhava o papel de veterinário, realizando
procedimentos nos animais com maestria. Sua expertise era essencial em um
ambiente onde os recursos médicos eram escassos. Na ausência de um médico,
recorria-se a curandeiros para tratar problemas de saúde.
Minha infância também foi
marcada por brincadeiras inocentes, como a de vaqueiro, em que eu e meu irmão
nos divertíamos montando nossos cavalos de pau. No entanto, houve momentos de
travessuras, como quando experimentamos a cachaça do meu pai pela primeira vez,
e quando marquei meu irmão com arame quente para simular as marcações que fazem
nos animais, lembranças que guarda um misto de saudade e leve arrependimento.
Agora, à medida que me
aproximo da aposentadoria, almejo retornar às minhas raízes de forma
definitiva. Quero compartilhar minhas experiências com minhas netas,
ensinando-lhes a valorizar a natureza e compreender que a verdadeira riqueza
está em uma vida simples e plena. Como diz o ditado local, "A vida aqui só
é ruim quando não chove no chão, mas se chover, há fartura para todos".
A felicidade muitas vezes se encontra no simples e algumas pessoas só percebem isso tarde demais.
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