Reencontro com a Natureza: Memórias e Reflexões ao Visitar um Antigo Amor

 


    Hoje saí de casa com o intuito de reencontrar uma antiga namorada. A saudade dela apertava-me o peito. Ao chegar lá, deparei-me com seus antigos habitantes; alguns, velhos conhecidos meus; outros, já não tão familiares, mas continuavam ali, ao lado dela, mesmo pagando um preço tão alto. Aos que ainda recordava, cumprimentei com um bom dia! A jurubeba, a flor do cagado, o besouro e seu descendente, o mingongo; um beija-flor que sorrateiramente beijava as flores e que rude e abruptamente desapareceu entre os galhos e folhas, sem se despedir, o anu branco, sempre assustado. Contudo, a frustração causada pelo beija-flor foi superada pela gentileza das borboletas; com suas asas coloridas, encantaram-me. Encontrei várias espécies, tão amáveis que até se exibiram para mim, às vezes cruzando meu caminho, às vezes acariciando suas vizinhas, as flores.

    Dando prosseguimento à minha visita àquela antiga paixão, encontrei um pequeno riacho, moribundo, como se implorasse por socorro, agonizando pela falta de apoio de suas velhas amigas, as árvores, e pela influência da mão humana, que despejava seus esgotos nele para se livrar de suas responsabilidades.

    Logo, percebi que o horário já avançara. Olhei ao meu redor e vi que aquela antiga paixão envelhecia e era maltratada, mas não deixava de ser bela. Ao retomar o caminho da realidade, senti falta do velho amigo sapo; ele não estava lá, talvez sua morada já não existisse mais. Olhei para trás e, com um olhar triste, despedi-me, até breve, subitamente relembrando o quão feliz era ao seu lado, quantas alegrias me proporcionou na infância, mas o destino traiçoeiro me afastou por conta da sobrevivência humana.


Texto escrito na época da  pandemia.

Carlos Eloy

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